Nos idos de 2011 e 2012 meus amigos se dividiram entre seguidores do professor Olavo de Carvalho e leitores das colunas do jornalista Reinaldo Azevedo alguns dos pouquíssimos nomes na área da cultura e do pensamento que enfrentaram a hegemonia esquerdista em geral e petista em particular, que açoitava o Brasil no período anterior às manifestações populares disruptivas de 2013 e da Operação Lava Jato de 2014.
Uma época em que o regime cleptocrata brasileiro – formado pelas oligarquias dominantes nos setores financeiro, industrial, midiático, acadêmico e tecnocrático estatal – ainda controlava, firmemente, o teatro das tesouras específicas da política nacional. De fato, em 2014, observamos, plenamente, a dicotomia antipopular das disputas de aparências entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), materializada, na eleição presidencial, na disputa bipolar entre a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves.
Eram dias de um Reinaldo Azevedo famoso pelo antipetismo de sua coluna e blog hospedado na Revista Veja, operando como esforçado puxador de votos para o tucanato paulista e mineiro, especialmente. Então, figura de ponta quase solitária do conservadorismo na mídia nacional.
Escritor talentoso, Azevedo tecia a maioria de suas críticas ao petismo baseadas em valores, teses e conceitos da melhor tradição ocidental; judaico-cristãos, populares e conservadores.
Demonstrava um apego a argumentos morais de relativa solidez, por vezes exibindo até certa frustração com a recusa – ou hesitação – por parte do tucanato em se contrapor ao PT, no campo das ideias e valores; restrito, na maioria das vezes, a se limitar às questões de aspecto administrativo da gestão da máquina pública.
Dessa produção crítica-opinativa, emergiriam artigos célebres de combate às mais ideias e práticas do petismo, depois organizados nos livros “O País dos Petralhas”, volumes 1 e 2.
Contudo, nessa mesma época, já despontavam fissuras na armadura conservadora habilmente aplicada por Azevedo. Transpareçam nos seus textos, cada vez com maior recorrência, vícios de caráter antes bem disfarçados: narcisismo intelectual, orgulho, arrogância…
Notavelmente desabonador e chocante mostrou-se seu entrevero com a então jornalista Joice Hasselmann, cujas próprias incongruências não justificavam a grosseria extrema desfechada contra sua pessoa por Azevedo, que, entre outras baixezas, ousou chamar um colega de “loura do banheiro”.
Se hoje causa asco na direita brasileira a transformação de Azevedo de antipetista célebre em sacripanta do lulismo mais rombudo, ressoa uma dúvida fundamental, parodiando a obra-prima de Kafka: seria Azevedo um homem que se tornou um inseto, ou ele sempre foi uma barata que conseguiu se disfarçar de homem e enganar a todos por um certo período?
Seria preciso estar na mente de Azevedo para descobrir a verdade, mas quem gostaria de habitar numa mente tão repulsiva, mesmo que por curto tempo?
A metamorfose do homem Reinaldo na barata Azevedo, dobrada a Lula e sujeitada de forma ignóbil ao petismo, lembra aqueles vídeos de acidentes pavorosos que proliferam pela Internet. Moralmente repugnantes, porém, difíceis de desviar o olhar uma vez iniciado, a audiência atraída pelos instintos humanos, a curiosidade mórbida de ver como a tragédia ocorre e termina.
Mais do que um inseto, Azevedo é um trem em pleno descarrilamento moral.