Uma boa parte do eleitorado brasileiro tem deixado claro suas desconfianças no sistema que prepara e executa o processo eleitoral brasileiro. Talvez o que muitas pessoas não perceberam, foram as interferências estrangeiras ocorridas mesmo antes do início do pleito. Antes de iniciar, é imperioso dizer que alguns países são notórios em intervir na escolha de chefes de estado e de governo estrangeiros; logo, isso não pode ser considerado uma novidade.
No caso concreto que pretendemos abordar aqui, integrantes do alto escalão do governo e do Estado americano, como o secretário de Defesa, o diretor da CIA, conselheiros do presidente, o Departamento de Estado, diplomatas ativos e inativos, oficiais da Forças Armadas e até mesmo parlamentares americanos entraram de cabeça e o argumento central era “o perigo que Bolsonaro representa”.
As dúvidas lançadas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o processo eleitoral, fizeram com que as autoridades do governo americano abrissem os olhos e passassem a interferir nesta seara.
Em 1 de Janeiro de 2021, Tomas Shannon publica um artigo na Revista Crusoé sob o título “A delicada verdade sobre uma velha parceria” onde deixa claro o que pensa do Brasil e principalmente do governo Bolsonaro e sua relação com o governo americano, especialmente Biden. Segundo o DefesaNet, esta data marca a assunção de Shannon como líder da “Task Force Brazil”, uma organização informal que tem como objetivos intervir e desestabilizar o governo brasileiro; qualquer um que ele seja. Este grupo atua seguindo as diretrizes do Diálogo Interamericano.
Em Julho de 2021, o diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) disse, segundo a Reuters, a altos funcionários brasileiros que o presidente Jair Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema de votação de seu país antes das eleições de outubro. A tal reunião ocorreu a portas fechadas, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto, que falaram sob condição de anonimato.
Uma terceira pessoa em Washington familiarizada com o assunto confirmou que uma delegação liderada por Burns disse aos principais assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no sistema eleitoral do Brasil. Essa fonte não tinha certeza se o próprio diretor da CIA havia expressado a mensagem.
A CIA se recusou a comentar. “Os assuntos tratados nas reuniões de inteligência são confidenciais”, disse o GSI. Mais tarde, em um discurso semanal nas redes sociais, Bolsonaro e Heleno negaram que tal mensagem tivesse sido entregue.
Burns também jantou na residência do embaixador dos EUA com Heleno e o então chefe da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos. No jantar, segundo uma das fontes, Heleno e Ramos procuraram descartar o significado das repetidas alegações de Bolsonaro de fraude eleitoral. Em resposta, disse a fonte, Burns disse a eles que o processo democrático era sagrado e que Bolsonaro não deveria estar falando dessa maneira.
“Burns estava deixando claro que as eleições não eram um assunto com o qual eles deveriam mexer”, disse a fonte, que não estava autorizada a falar publicamente.
Já em agosto de 2021, o teor dos comentários de Burns foi reforçado quando o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, visitou Bolsonaro e levantou preocupações semelhantes sobre minar a confiança nas eleições. No entanto, a mensagem da delegação de Burns foi mais forte do que a de Sullivan, disse a fonte de Washington, sem dar mais detalhes.
“É importante que os brasileiros tenham confiança em seus sistemas eleitorais”, disse um funcionário do Departamento de Estado dos EUA em um comunicado quando solicitado a comentar, acrescentando que os Estados Unidos estão confiantes nas instituições brasileiras, incluindo eleições livres, justas e transparentes.
Com participações não tão enfáticas, mas numa frequência intrigante, vieram outras manifestações como as do almirante Craig Faller. Em sua última viagem internacional antes de deixar o Comando Militar Sul dos Estados Unidos, disse que o papel das Forças Armadas é “apolítico” – “Fizemos um juramento de defender a Constituição e, quando encontrei os militares brasileiros nesses últimos três anos, vi que eles compartilham da mesma visão”.
Em dezembro do ano passado foi a vez do encarregado para a América Latina do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Juan González, em Washington, dizer que o governo americano tem plena confiança de que as eleições serão “livres e justas”.
O tema voltou à tona por iniciativa de uma autoridade americana em abril de 2022 quando a subsecretária de Estado americana para assuntos políticos, Victoria Nuland, disse que o Brasil tem “um histórico muito bom de eleições justas e transparentes”.
Mais um capítulo desta possível interferência é o envolvimento das chamadas Big Techs, em especial o Google e uma de suas subsidiárias, o Youtube. Quem acompanha a política americana sabe a relação umbilical que o governo Joe Biden tem com essas empresas, e o livre trânsito, aí incluídas nomeações para cargos no alto escalão, é notoriamente documentado. A seguir algumas das ações tomadas pelo Google para agir contra a desinformação nas eleições.
Em março de 2022, o Google atualizou sua política contra desinformação e avisa que “se você envia conteúdo, essas políticas proíbem determinados tipos de conteúdo relacionados a eleições democráticas livres e justas. Não poste no YouTube conteúdo relacionado às eleições que se encaixa em alguma das descrições, entre elas: “conteúdo com alegações falsas de que fraudes, erros ou problemas técnicos generalizados ocorreram em determinadas eleições passadas para determinar os chefes de governo. Ou conteúdo que afirma que os resultados certificados dessas eleições são falsos. Atualmente, essa política se aplica a:
• qualquer eleição presidencial dos EUA;
• eleições federais da Alemanha de 2021;
• eleições presidenciais do Brasil de 2014, 2018 e 2022.”
Mais abaixo dá exemplos: “Conteúdo com alegações falsas de que fraudes, erros ou problemas técnicos generalizados mudaram o resultado da eleição presidencial do Brasil de 2018.”
O Google explica “O que acontece se o conteúdo violar esta política? Nesse caso, ele será removido e você receberá uma notificação no seu e-mail. Se essa for sua primeira violação das nossas diretrizes da comunidade, seu canal vai receber apenas um alerta sem penalidades. Caso contrário, emitiremos um aviso. Se você receber três penalidades desse tipo, seu canal será encerrado.”
A Folha de São Paulo deu divulgação a esta atualização e trouxe mais algumas explicações como: “O YouTube anunciou que vai começar a remover todos os vídeos que contenham alegações falsas de fraudes, erros ou problemas técnicos na eleição de 2018, inclusive de forma retroativa, atingindo os que já estão publicados na plataforma.”
A atualização nas políticas eleitorais foi anunciada após diversas críticas à falta de ações da plataforma no combate à desinformação eleitoral.
Tudo que já havia sido publicado estava passível de remoção. Antes, a proibição de conteúdo valia apenas para eleições presidenciais passadas dos EUA e as federais alemãs de 2021. Agora, as eleições brasileiras de 2018 passam a ser incluídas.
A plataforma passou a inclui proibição específica ao Brasil e a Folha deu a data a partir de quando o YouTube começaria a analisar os vídeos que abordem o tema da suposta fraude eleitoral em 2018 usando inteligência artificial e moderação humana.
Segundo a empresa, vídeos informativos ou noticiosos, que debatessem a vulnerabilidade das urnas fornecendo contexto, não seriam derrubados.
No Brasil, o entendimento da plataforma é que o processo de certificação de resultado eleitoral pelo TSE é centralizado e muito mais rápido. E, assim que houver resultado certificado, a plataforma poderá anunciar a remoção de conteúdo alegando falsamente que houve fraude em 2022.
Já em 30 de abril de 2022, em um artigo de opinião publicado no Globo, Scott Hamilton, cônsul dos EUA no Rio de Janeiro de 2018 a 2021 e que havia acabado de se aposentar do Departamento de Estado, disse que Washington deveria deixar claro ao presidente brasileiro “messiânico” Jair Bolsonaro que qualquer esforço para minar as eleições de seu país desencadearia sanções multilaterais.
Hamilton prossegue: “o populista de extrema direita fez alegações infundadas de fraude eleitoral brasileira, que são parte de um plano para rejeitar qualquer derrota nas eleições de outubro”.
No mesmo artigo escreveu que em seu tempo no Rio ele “testemunhou as maneiras pelas quais Bolsonaro e seus apoiadores tentaram sabotar a integridade do processo democrático brasileiro”.
A “intenção do presidente brasileiro é clara e perigosa: minar a fé do público (no sistema eleitoral) e preparar o terreno para o esforço de se recusar a aceitar seu resultado”, “…ele se vê como um enviado de Deus para salvar o Brasil do ‘comunismo’. É uma visão messiânica impermeável à razão.”
Como resultado, escreveu Hamilton, “os Estados Unidos devem deixar bem claro ao presidente Bolsonaro que uma tentativa de interferir na integridade do processo eleitoral brasileiro será objeto de… sanções punitivas a todos os envolvidos, impostas simultaneamente por um amplo grupo de países”.
Em 24 de julho de 2022, O Globo e a Folha de São Paulo publicam entrevistas com Thomas A. Shannon. Ambos jornais omitem a ligação de Shannon com o Dialogo Interamericano (que vamos abordar mais adiante). Ambas entrevistas estão repletas de perguntas e respostas com claro viés de ataque a Bolsonaro, defesa da integridade do sistema eleitoral e denuncias a qualquer um que faça críticas ao seu formato. O ex-embaixador disse que Bolsonaro estava preparando um caminho para judicializar a eleição, igual o ex-presidente Donald Trump. Nelas, Shannon demonstra também um ótimo conhecimento sobre o Brasil e seu povo.
Em 26 de julho deste ano, o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, enfatizou a ne-cessidade de os militares estarem sob firme controle civil. No mesmo evento uma fonte americana que acompanhava Austin, detalhou o significado desta declaração. Segundo esta fonte “…para a região como um todo, ele (Austin) vai trazer uma mensagem muito forte e clara sobre a necessida-de de os militares respeitarem as democracias…”.
O deputado norte-americano Tom Malinowski, democrata e membro do Comitê de Rela-ções Exteriores da Câmara, disse à Reuters: “(Austin) deve simplesmente deixar claro que os mili-tares devem permanecer fora das eleições e permitir que quaisquer disputas sobre a eleição sejam resolvidas por meios constitucionais”. Disse também que “ele deve lembrar a seus colegas que a lei americana restringe nossa cooperação com militares estrangeiros que participam de qualquer coisa que possa se assemelhar a um golpe.”.
Já Thomas Shannon, ex-embaixador dos EUA no Brasil, disse à Reuters: “O secretário Aus-tin… está entrando numa tempestade política na qual os brasileiros estão tentando medir o nível de apoio institucional para um esforço potencial de desfazer os resultados das eleições”.
Ex-funcionários norte-americanos, incluindo Shannon, advertiram que o Brasil não respon-de bem às ameaças, e que qualquer mensagem tem que ser focada na parceria EUA-Brasil.
“Mas tem que ser (uma mensagem) que deixe claro que a parceria entre militares dos EUA e do Brasil depende de um compromisso comum com os valores e práticas democráticas”, disse Shannon.
“Nós não queremos entrar no meio das eleições brasileiras, de forma alguma. Mas quere-mos garantir que o fato de acreditarmos que o sistema eleitoral brasileiro é crível e capaz de admi-nistrar uma eleição livre e justa (seja conhecido)”, disse o alto funcionário da Defesa dos EUA.
Tais pronunciamentos ocorrem, após o chefe do executivo solicitar apoio das Forças Armadas no processo de apuração dos votos.
Aliás a figura de Thomas Shannon deve ser analisada à parte.
Thomas Shannon por ocasião de sua aposentadoria foi objeto de uma homenagem, no dia, oferecida pelo então secretário de Estado, Mike Pompeo.
Após ter atuado em diversas capitais latino-americanas desde a década de 1980, quem o conhece diz que um de seus temas obsessivos é o Brasil, país onde trabalhou como assistente do Embaixador no final dos anos 1980 e aonde voltou como Embaixador em 2010.
Durante o governo de Barack Obama, foi assessor do Secretário de Estado e Subsecretário de Assuntos Político. Neste contexto Shannon se opôs à imposição de sanções ao regime de Nicolás Maduro, viajou a Caracas para realizar várias reuniões, algumas públicas e outras secretas. A então ministra das Relações Exteriores de Maduro, Delsy Rodríguez, revelou que Shannon havia se oferecido para manter contatos de alto nível entre Caracas e Washington e tentar melhorar as condições operacionais entre os dois governos. Manteve encontros com o chanceler de Maduro e com o presidente da Assembleia Nacional e homem forte do regime, Diosdado Cabello, desenvolvendo sua própria agenda abertamente complacente com o regime chavista. Foi ainda acusado de ter interrompido ou paralisado sanções contra líderes chavistas durante 2016.
A influência de Shannon sobre a política dos EUA em relação à Venezuela seria sentida mesmo durante os primeiros anos do mandato de Trump.
Em 04 de junho de 2018, Shannon deixou o Departamento de Estado, e tinha diante de si a opção de usar sua experiência como base para uma carreira política. No entanto, ele se tornou membro do heterogêneo Inter-American Dialogue (Diálogo Interamericano), um “think tank de política externa” com sede em Washington, do qual ele é agora vice-presidente.
A lista de membros do Diálogo Interamericano inclui membros da esquerda VIP latino-americana, como a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, Marina Silva, Fernando Henrique Cardoso, o vencedor do prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, a ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla e a ex-vice-presidente colombiana Marta Lucía Ramírez. Aliás, Chinchilla e Ramírez estiveram em Brasília como observadores no primeiro turno das eleições brasileiras; mas não como membros do Diálogo Interamericano, e sim em nome do Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral – IDEA.
Em 23 de julho deste ano, em declarações à Folha de São Paulo, Shannon acusou Bolsonaro de preparar o caminho para uma ruptura institucional. Já em declarações feitas em 30 de setembro, publicadas no portal Valor Econômico poucas horas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, Shannon afirmou que os EUA preferiam uma vitória de Lula da Silva, o que permitiria maior compromisso entre os dois países. O diplomata aposentado, agora empregado do governo argentino, dá entrevistas como se fosse um porta-voz do governo de seu país.
Segundo Shannon, os EUA e Lula compartilham “um compromisso com a democracia e os direitos humanos que criam a base para um diálogo mais amplo sobre nossa aliança estratégica”. Como qualquer um já sabe (e Shannon ignora) é uma afronta à grave situação de violação de direitos humanos na Venezuela e em Cuba, regimes com os quais Lula mantém relações de parceria política e aos quais beneficiou com créditos de bancos estatais brasileiros.
Ao Valor Econômico, Shannon diz que a vitória de Lula permitiria ao Brasil participar junto com os governos de esquerda da Colômbia, Chile e Argentina em um mecanismo semelhante ao Grupo Contadora (esquema diplomático criado por Colômbia, México, Panamá e Venezuela na década de 1980 do século passado, buscando um acordo de paz na América Central) para tratar do caso venezuelano fora dos Estados Unidos. A intenção é que o “Brasil iluminista” coordenaria a equipe.
Shannon chama de erro as desconfianças postas em cima das urnas eletrônicas. Ele insiste que a rápida apuração faz bem para a democracia e que Bolsonaro estava estudando onde Trump errou, na judicialização do processo eleitoral, para não cometer o mesmo erro.
Em 8 de agosto, o UOL em parceria com a agência Reuters, publica uma matéria que visa informar que um “pedido do Exército brasileiro para comprar mísseis antitanque Javelin dos Estados Unidos no valor de cerca de 100 milhões de dólares, está parado em Washington há meses devido a preocupações de parlamentares norte-americanos sobre o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), incluindo os ataques dele ao sistema eleitoral brasileiro”.
No restante do texto você coleta expressões como: “…está desde então emperrado em um limbo processual em meio à crescente preocupação entre os parlamentares democratas dos EUA a respeito dos questionamentos que Bolsonaro tem feito sobre a integridade das urnas eletrônicas e da segurança da eleição de outubro no Brasil…”, “…acabou travado devido a um esforço liderado pelos democratas para enviar uma mensagem a Bolsonaro e às Forças Armadas brasileiras…”, “Está caminhando lentamente no Capitólio e não vai a lugar nenhum tão cedo por conta das incertezas sobre Bolsonaro…”, “…O impasse reforça o impacto que os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral têm causado…”, “…o Brasil pode se tornar mais isolado internacionalmente se Bolsonaro seguir o exemplo de Trump e se recusar a aceitar uma eventual derrota na eleição de outubro…”, “… Atualmente, ele aparece bem atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto…”, “…”Há aqueles dentro dos níveis de trabalho do Departamento de Estado que expressaram preocupações a respeito desta venda, dadas as ações e a retórica de Bolsonaro…”
Em Agosto de 2022, o próprio TSE divulga a parceria que tem e expande com o Google informando em seu portal que “durante a conversa com os jornalistas, eles afirmaram que a parceria com o TSE é a espinha dorsal do trabalho da empresa ao longo do período eleitoral no Brasil. Desde 2014, o Google estabelece parcerias com a Justiça Eleitoral, visando combater de forma ostensiva o fenômeno da desinformação on-line no contexto das eleições brasileiras.”
Na mesma página do portal do TSE, encontramos que “durante o evento, foi destacado que as eleições brasileiras são uma prioridade para o YouTube e a política de integridade eleitoral inclui recomendações específicas e públicas sobre conteúdo ligado a eleições.
Já sobre a remoção de conteúdos na plataforma, foi informado que “… são retirados conteúdos que questionem a integridade de eleições e contenham informações falsas sobre fraude generalizada, erros ou problemas técnicos que supostamente tenham alterado o resultado de eleições anteriores, após os resultados já terem sido oficialmente confirmados.
Alana Rizzo, gerente de Políticas Públicas do YouTube, vai além e diz que “…a política é traduzida em 4Rs: remover, reduzir, recomendar e recompensar. Durante a palestra, ela citou que vídeos com esse tipo de conteúdo são removidos com apenas 10 views. Usuários mais bem informados são eleitores mais bem informados”, ela complementa….” Ela conclui dizendo que a plataforma não permite enganar eleitores e “… isso inclui alegações falsas de que as urnas eletrônicas brasileiras foram hackeadas na eleição presidencial de 2018 e de que os votos foram adulterados….”
Apesar de nestas regras ser proibido usar material obtido por hackers, como foi possível que o material obtido na “Vaza Jato” e que serviu de base para julgar a parcialidade de Sérgio Moro e anular as condenações e consequentemente habilitou Lula tenha sido usado?
Em 23 de setembro de 2022, um editorial do site DefesaNet apontou Shannon como chefe de uma operação para desestabilizar o governo de Jair Bolsonaro e apoiar a candidatura de Lula da Silva às eleições presidenciais. O Diálogo Interamericano e a influência que Shannon manteria no Departamento de Estado norte-americano teriam sido as ferramentas, segundo o portal. Shannon, não respondeu aos pedidos de comentários.
Após ingressar no Diálogo Interamericano, Shannon preferiu tornar-se agente de governos estrangeiros. Em 2018, ingressou na empresa “Arnold & Porter Kaye Scholer LLP”, em Washington, como Consultor Sênior de Políticas Internacionais. A partir daí, atuou, entre outras funções, como agente do governo argentino de Fernandez na capital norte-americana.
O contrato pelo qual Shannon atuou como agente do governo de Alberto Fernández terminaria em 30 de junho de 2022, mas em 6 de maio de 2022 a firma colocou Shannon como operador do contrato de representação da empresa YPF S.A. A petroleira controlada pelo governo argentino contratou os serviços de lobby de Shannon sob o pretexto de comemorar o centenário de fundação da empresa em Washington. Para esta missão, Shannon vinculou sua atividade de assessor com seu cargo de diretor do Diálogo Interamericano.
Uma das atividades do escritório para o governo argentino foi organizar e participar de um jantar na residência do embaixador argentino em Washington, nos dias 16 a 22 de maio de 2022, no qual os convidados especiais teriam sido o diretor para o Brasil e o Cone Sul no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca Amy Radetsky, e o Secretário Adjunto de Defesa para o Hemisfério Ocidental Daniel Erikson que faz parte da equipe de “especialistas” do “Diálogo Interamericano”.
Em 7 de Setembro, os Senadores Tim Kaine (presidente do Subcomitê de Relações Exteriores do Senado no Hemisfério Ocidental), Bernie Sanders, Jeff Merkley, Richard Blumenthal, Patrick Leahy e Elizabeth Warren e os deputados Jamie Raskin, Raul Grijalva e Sara Jacobs – todos do Partido Democrata – se juntam para divulgar uma resolução de “apoio às instituições democráticas” no Brasil.
A introdução do texto já inicia afirmando: “em meio aos esforços do presidente brasileiro Jair Bolsonaro para rejeitar preventivamente os resultados das eleições nacionais do Brasil e semear desconfiança e espalhar desinformação sobre a eleição presidencial do próximo mês no país, onde as pesquisas atuais projetam que ele perderá a reeleição.”
Kaine afirma: “Os Estados Unidos e o Brasil são duas das maiores democracias do Hemisfério Ocidental. Em um momento em que a democracia está sob ataque no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países do mundo, temos o dever de defender o direito fundamental dos povos de moldar seu futuro tendo voz em seu governo, sem medo de violência política ou retribuição. Esta resolução envia uma mensagem poderosa de que o Congresso está comprometido em unir armas ao povo do Brasil nesse esforço e que não ficaremos em silêncio diante de quaisquer tentativas de minar o sistema eleitoral do Brasil.”
Já Bernie Sanders diz que “É absolutamente imperativo que o Senado dos EUA deixe claro por meio desta resolução que apoiamos a democracia no Brasil. Seria inaceitável que os Estados Unidos reconhecessem um governo que chegou ao poder de forma não democrática e enviaria uma mensagem horrível ao mundo inteiro. Os Estados Unidos devem deixar claro que apoiamos o processo democrático, e é importante que o povo brasileiro saiba que estamos do lado deles, do lado da democracia.”
Merkley por sua vez, disse: “Uma transferência pacífica de poder é essencial para uma democracia forte. Mas as comemorações do Dia da Independência do Brasil hoje, em meio à tensão e polarização, ressaltam o quão frágil é a democracia e os esforços sustentados que são necessários para preservá-la. Os EUA devem condenar toda e qualquer tentativa de incitar violência política e intimidação para garantir que os processos eleitorais do Brasil permaneçam livres e justos.”
“Esta resolução reconhece a importância de fortalecer a democracia no Brasil. Nossa medida é um chamado à ação para preservar as instituições democráticas do Brasil”, disse Blumenthal.
“O destino da democracia brasileira, que está sob ataque diário do presidente Bolsonaro, e das relações dos EUA com o Brasil, será decidido nas próximas eleições. O governo Biden deve deixar inequivocamente claro que os custos de subverter uma eleição livre e justa serão imediatos e severos”, disse o senador Leahy.
Já o Deputado Raskin disse: “Enquanto o povo do Brasil se prepara para votar neste outono, as forças de direita estão tentando minar a integridade do sistema eleitoral e envenenar o processo com uma retórica autoritária que ecoa a incitação violenta que ouvimos nos Estados Unidos antes de 6 de janeiro. Esta resolução bicameral insiste que as próximas eleições no Brasil sejam livres e justas, transparentes e pacíficas. A democracia está sob ataque em todo o mundo, e devemos defendê-la vigorosamente em todos os lugares contra a autocracia, a insurreição e a desinformação”.
“À medida que as eleições no Brasil se aproximam, continuamos a convocar todos os indivíduos que se candidatam a defender os valores da democracia e endossar eleições livres, justas, confiáveis, transparentes e pacíficas. Qualquer coisa menos é inaceitável”, disse o deputado Grijalva.
“Os Estados Unidos são mais fortes e seguros quando nossos valores se alinham com nosso apoio a governos estrangeiros”, disse a congressista Jacobs. “Estou cada vez mais alarmado com a ascensão do autoritarismo nos EUA, Brasil e em todo o mundo que ameaça os direitos humanos, a democracia e o estado de direito. Com os brasileiros indo às urnas em menos de um mês para eleger seu novo presidente, há temores legítimos de que o presidente Jair Bolsonaro possa se recusar a renunciar se perder. Essa resolução bicameral é crítica e traça uma linha importante: os Estados Unidos não devem reconhecer formalmente ou fornecer ajuda militar a um governo ilegítimo”.
Em determinado ponto o documento diz que “…os brasileiros soaram o alarme sobre sinais preocupantes de retrocesso democrático no país, incluindo ataques de funcionários do governo às instituições democráticas do país e ao estado de direito; o sequestro e assassinato de advogados e jornalistas; ataques infundados ao sistema eleitoral do país; e um aumento dramático na violência dirigida a líderes políticos brasileiros…”
Entre outras coisas a “resolução pede que o governo dos Estados Unidos continue a se manifestar contra os esforços para incitar a violência política e minar o processo eleitoral no Brasil, e rever e reconsiderar seu relacionamento com qualquer governo que chegue ao poder no Brasil por meios antidemocráticos.”
Em 21 de setembro, Douglas Koneff, mais alto funcionário da embaixada americana que está sem embaixador (Elizabeth Bagley, que foi indicada por Biden, foi barrada na Comissão de Relações Exteriores do Senado), reuniu-se com Lula e disse que o governo americano tem grande respeito pelas autoridades eleitorais do país e pela forma como o pleito é organizado. A administração de Joe Biden tem enviado sinais de apoio ao trabalho do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) diante de ataques de Jair Bolsonaro (PL) às urnas eletrônicas e a ministros da corte e que o principal gesto de Washington se deu em julho, quando a embaixada divulgou uma nota afirmando que eleições brasileiras são um modelo para o mundo e que os americanos confiam na força das instituições do país.
Tais denúncias voltam a tona quando o jornalista da rede de Tv americana Fox News, Tucker Carlson, acusou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a Agência Central de Inteligência (CIA) de pressionarem o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), e interferirem nas eleições brasileiras.
De acordo com Tucker, Biden prega eleições livres e justas, mas interfere na realização dos pleitos em diversos países. “Neste caso, nas eleições do Brasil, [a interferência ocorre] há mais de um ano”, disse. “Você não tem obrigação de aceitar os resultados de uma eleição injusta. O candidato (do partido Democrata), Lula da Silva, supostamente venceu e você não tem permissão para sugerir o contrário?”, afirmou.
O jornalista também aponta a censura imposta pelo judiciário e com chancela de parte da imprensa, que criminaliza tudo o que vai contra o pensamento lulista. O comunicador fala que Bolsonaro não é obrigado a aceitar o resultado de uma eleição injusta. “Na verdade, se você acredita na Democracia, não deveria”, reforça. “Mas ninguém no Brasil pode reclamar”, afirma.
Tucker fala também sobre os gigantes da tecnologia, as chamadas Big Techs, que de acordo com ele, são um braço do governo de Biden há dois anos, estão censurando quaisquer postagens que ouse questionar o resultado eleitoral. O jornalista Mattew Tyrmand, levanta a informação de que Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, deve vir ao Brasil para que a transição de governo seja feita em ordem. O que é uma clara interferência no processo de eleição de um país soberano e até agora, “democrático”.
Matthew também comenta que está impressionado que o governo americano não viu os últimos dois anos, quando seguidores, apoiadores seja políticos, jornalistas e empresários foram censurados, perseguidos e até presos. “Até mesmo um congressista em exercício (Daniel Silveira), foi colocado em prisão domiciliar e continua até agora”, reforça.
Tyrmand também comenta que a Deputada Federal, Carla Zambelli, foi totalmente expurgada das redes sociais. “Pela canetada de um homem”. Se referindo ao Presidente do TSE, Ministro Alexandre de Moraes. Ele diz que no Brasil não existe o devido processo legal. “É puramente na canetada e essas pessoas estão perdendo as suas vozes”, afirmam. Os jornalistas questionam como a administração de Biden não se posiciona sobre isso. “Como isso não é considerado uma irregularidade eleitoral?” perguntam. E questionam onde estão os órgãos como União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA), O IR que monitora eleições. “Estão calados”, conclui.
Conteúdo acessado para produzir este artigo:
15) https://crusoe.uol.com.br/edicoes/140/a-delicada-verdade-sobre-uma-velha-parceria/
16) https://www.estadao.com.br/politica/o-que-lula-busca-em-aproximacao-com-eua/
17) https://br.usembassy.gov/pt/embassy-consulates-pt/brasilia-pt/ministro-conselheiro/
22) https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/defendendo-democracia.html
24) https://www.kaine.senate.gov/imo/media/doc/brazil_resolution.pdf