São peremptórias as constatações do historiador russo, general Dmitri Volkogonov, sobre as disfuncionalidades que, a longo prazo, inviabilizam um regime comunista: “monopólio do poder por um partido político único, controle total da administração e da sociedade e, no topo, um ditador absoluto”. Como ex-diretor da KGB e responsável pelos arquivos secretos, ele teve amplo acesso a informações privilegiadas e as trouxe a público em seu livro Os Sete Chefes do Império Soviético, desnudando as falácias da fatalidade marxista.
O projeto leninista, construído sobre o conceito de luta de classes, só conseguiu se consolidar pelo emprego da violência, para massificar uma sociedade passiva, iludida na promessa do paraíso material. Contudo, a necessidade econômica foi mais forte do que a ideologia de Lênin, e ele teve de introduzir a NEP (nova política econômica), que autorizava as atividades microeconômicas, para evitar o colapso, relativizando o princípio da planificação desde o início.
Enquanto a população se manteve fascinada e mobilizada, o regime vingou. Quando sobreveio a estagnação e o desencanto, o declínio foi fatal, até o colapso.
Na China, a economia subsistiu, graças à catarse de Deng Xiaoping, embora ao preço da renúncia à ideologia, para transmudar-se em “socialismo de mercado”, uma forma primitiva de capitalismo de estado. Mas, permanecem vivos os fundamentos leninistas da ditadura do partido único e do controle social, o que torna incerto o futuro do país.
O fato é que o socialismo de economia planificada está morto no mundo das sociedades mais amadurecidas. Na América Latina, porém, onde a formação social é recente, o povo conserva idiossincrasias culturais que podem viabilizar projetos de poder de inspiração ideológica, como ocorreu na Venezuela.
No Brasil, predomina a mentalidade individualista, que transige com costumes patrimonialistas, clientelistas e de corrupção, favorecendo o populismo político e o proselitismo ideológico. O último resultado eleitoral, embora impreciso pela suspeição do processo eletrônico, mostrou que metade do eleitorado ainda tolera a corrupção e absolve o crime, pela escolha de um candidato condenado em três instâncias judiciais por delitos reconhecidos.
Evidentemente, não é possível confrontar as circunstâncias. Da mesma forma, não se pode abdicar dos valores transcendentes que sustentam a sociedade tradicional. Portanto, o impasse está instalado, fraturando a sociedade pela metade.
A crise em curso foi provocada por quem tinha o dever de garantir a lei, mas preferiu relativizá-la em benefício de interesses políticos, violando a ordem moral.
A ordem em geral precisa ser restabelecida no nosso país.