A HERANÇA DE UM PATRONO, 229 ANOS DEPOIS
A herança de um patrono, 229 anos depois.
Por Guilherme Muraro Derrite
Não à toa, Joaquim José da Silva Xavier, alferes de milícia, tornou-se patrono das Polícias do Brasil. Aquele dentista prático chamado de Tiradentes é também o maior herói da história da Independência do Brasil e nos dá uma lição com seu exemplo, de extrema atualidade no momento desafiador que a Polícia Militar atravessa.
Tiradentes mostrou sua bravura ao exercer seu ofício nas milícias que zelavam pela ordem pública no Brasil Colônia. A Inconfidência Mineira pretendia libertar o Brasil de Portugal, uma ideia que ganhou força com a Independência dos Estados Unidos. Justamente por essa influência, Tiradentes carregava livros sobre a independência norte-americana por onde fosse.
Um ideal norteava todas as suas atitudes, como seu alistamento em 1775, no posto de Alferes, no Regimento de Dragões de Minas Gerais, equivalente à Polícia Montada dos dias de hoje: ele tornara-se então o principal articulador para a libertação do Brasil.
Tal realidade de Tiradentes persiste nos dias de hoje em cada homem e em cada mulher que opta pela carreira militar. O que impulsiona a vocação para essa carreira vai além de interesses pessoais, vai além de um projeto de carreira própria. Ser policial militar é carregar consigo o desejo de servir e proteger a população nem que isso lhe custe o tombamento. Tiradentes é o maior herói dentre os heróis que tombaram porque lutou pela libertação de todo um país.
Quem poderia imaginar que 229 anos depois, os policiais militares teriam o dever de lutar pela liberdade da população. Seria insanidade pensar que em 2021, policiais seriam ordenados a prender trabalhadores que insistem em lutar pelo pão de cada dia. Sempre haverá um Joaquim Silvério dos Reis, que delatou Tiradentes por acreditar que o correto seria acatar as ordens do rei, por mais absurdas que elas fossem. Porém, quem ingressou em um ofício pelo sonho da servidão e proteção nunca se voltará contrário ao cidadão de bem.
A Polícia Militar é, em sua essência, um órgão garantidor da democracia. Por lógica, não deve cumprir decretos inconstitucionais, como os que vão contra as liberdades. É justamente por isso que, invocando a história do herói patrono das polícias, peço aos meus irmãos de farda, incansavelmente: não cumpram ordens absurdas. Não deixem que governantes os utilizem de massa de manobra. Polícia Militar é um órgão de Estado, não de governo.
Precisamos estar atentos às verdadeiras intenções obscuras em atitudes que se disfarçam de algo bom, como todo movimento que visa ferir a ordem da sociedade. Movimentos progressistas não irão contra a nossa ordem de maneira agressiva, pois o próprio ideal deles precisa de disfarce para não assustar, tamanha sua incoerência.
Querem desmilitarizar a polícia e isso não começou hoje. Como irão convencer a população disso? Colocando os policiais como vilãos aos olhos do cidadão de bem. É isso o que tentam. É contra isso que precisamos lutar, para que amanhã nenhum policial seja acusado por um trabalhador de cometer um ato inconstitucional, proibindo-o de trabalhar. Porque se isso acontecer, uma coisa posso garantir, com a experiência de quem precisou contratar um advogado com o próprio salário para se defender depois de atirar contra um criminoso que tentava me matar: governador nenhum irá te dar a mão no tribunal.
Guilherme Muraro Derrite é Capitão da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo e atuou no batalhão de elite da PM do estado, a ROTA. Atuou também no Corpo de Bombeiros. É Deputado Federal por São Paulo desde 2019.