Em 24 de outubro, mais de 800 jornalistas assinaram uma carta aberta anunciando apoio ao candidato Lula (PT). No documento, os participantes afirmam que os profissionais de imprensa lúcidos votam no petista para defender a democracia de um suposto risco, que Bolsonaro (PL) oferece. No entanto, apesar dos embates deste com jornalistas e veículos de comunicação, nenhum sequer teve sua voz calada, foi preso ou passou por ações semelhantes por iniciativa do Presidente.
De forma figurada, a relação entre o petista e parte dos jornalistas, é entre tapas e beijos. Lula entra com os tapas e eles com os beijos em uma história de amor totalmente histérica. Em diversas ocasiões, Luís Inácio defende uma regulamentação dos meios de comunicação, a chamada “democratização” dos veículos de imprensa e até a prisão de quem por ventura “mentir” sobre ele.
No ano de 2004, o jornalista do The New York Times, Larry Rohter, foi obrigado a deixar o Brasil, após ter o visto cancelado pelo Governo Federal, devido a críticas ao então presidente Luis Inácio Lula da Silva. Larry foi responsável por uma matéria, em que mostrava uma suposta preocupação da população brasileira, por ter um presidente que abusa de bebidas alcoólicas. Se tal reação a matéria não é uma forma de censurar; podemos dizer que os critérios para definir censura se alargam bastante, de acordo com o censor e o censurado. Rohter foi obrigado a pedir desculpas para poder retornar ao país e retomar seus trabalhos jornalísticos.
Na época, o caso repercutiu em vários portais de notícias do mundo, principalmente nos Estados Unidos, país onde o jornalista é natural. O então porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Richard Boucher, apesar de não concordar com o artigo de Larry, afirmou que a decisão do governo brasileiro “não está de acordo com o forte compromisso do Brasil com a liberdade de imprensa”.
De fato, tal atitude é totalmente contrária a postura de um defensor assíduo da liberdade de expressão e imprensa. Outro ponto em que devemos ficar de olho e nos preocupar, são as frequentes falas do ex-presidente, afirmando categoricamente que os meios de comunicação precisam ser regulamentados.
A chefe da Associação de Correspondentes Internacionais na época, Veronica Goyzueta disse: “É um caso de censura e perseguição de um governo democrático”. “E de um governo formado por pessoas que sofreram perseguição”, ressaltou.
O secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas, Aidan White, disse à BBC Brasil que foi com “grande decepção” que a organização recebeu a notícia do cancelamento do visto de Rohter. “Havia grandes esperanças de que o novo governo brasileiro fosse mais aberto”, afirmou White. Além de afirmar que as críticas tais como foram feitas por Larry, apesar de reprováveis, fazem parte da democracia.
O sonho petista de regulamentar a mídia, deve ser preocupante para todos os profissionais de imprensa, que sejam lúcidos, como diz a carta dos jornalistas ao ex-presidente. Pois estamos diante de um homem que detesta o contraditório e não aceita críticas. É possível observar os inúmeros pedidos de fechamento de portais jornalísticos, que fazem jornalismo honesto em relação a ele, mostrando fatos ocorridos em seu passado obscuro.
Nenhum outro Presidente da República, foi tão favorável a instrumentalização dos meios de comunicação, como o senhor Lula está sendo e com cada vez mais vontade de regular a mídia para que “a população não seja enganada”, como disse o próprio.
Apesar de nunca ter detalhado como fará essa regulação, Lula deu indícios de como seria, quando afirmou: “Eu vi como a imprensa destruía o Chávez (ex-presidente da Venezuela, morto em 2013). E relembra, quando a imprensa expôs vários escândalos em seu governo. “Aqui eu vi o que foi feito comigo.”, disse.
Ora, nesse eventual novo marco de regulação dos meios de comunicação, será permitido que sejam expostos fatos de corrupção ocorridos? Por que não é detalhado como será feito? O que está por trás? Já sabemos, vemos isso todos os dias durante a eleição, sites obrigados a retirar matérias do ar, emissoras impedidas de abordarem determinados temas e palavras que não podem ser ditas por jornalistas.
Lula criticou a ex-presidente Dilma, por engavetar o projeto de regulação da mídia, que ele tinha deixado pronto para passar no congresso. No texto da lei, estava a criação de uma agência reguladora única para a comunicação social.
Os pedidos de censura do PT podem ser considerados também, uma projeção do que e de como será a tal regulamentação defendida por Lula. E atualmente, chancelada pelo poder judiciário de forma escancarada e preocupante, a dobradinha está funcionando e avançando sobre os adversários.
A lei das concessões públicas de rádio e TV no País também já foi citada pelo ex-presidente e será um dos alvos principais do petista. Se for como durante as eleições, sabemos como terminará. Os jornalistas “lúcidos”, não conseguem ver isso?
No plano de governo de Fernando Haddad em 2018, estava a chamada “Democratização da Mídia”. De acordo com ele, a proposta seria pautada no congresso nos primeiros seis meses de seu governo. Dentre os planos estava o fim da possibilidade de uma emissora ser proprietária de vários veículos. “É preciso impor limites”, diz o site oficial do PT.
Como jornalista, me preocupo e não aceito censura vinda de qualquer autoridade. Nossas vozes e opiniões jamais devem ser caladas. Todos, independente de quem seja, tem o direito inviolável de opinião e poucos são os veículos que ainda tem um contraponto. Infelizmente o debate está sendo sepultado.
Jornalistas dizerem que votar em Lula é lutar pela democracia e pela liberdade de imprensa, é apenas uma desculpa. Não há nada de errado. Porém, o que é alarmante, é apoiarem atitudes autoritárias, quando vindas do candidato favorito. Ora, ver um jornalista ser calado é motivo de revolta, seja lá qual opção política ele tenha.
Tal afirmação de defesa da democracia do suposto perigo bolsonarista, é uma mentira. No entanto, essa é permitida ser veiculada livremente, pois vai ao encontro dos interesses de quem quer a oportunidade de regular e censurar a imprensa. Na carta, repudiam Bolsonaro por “defender ditadura”. Lula não só defende, como ajudou a financiar algumas. E assim vão vivendo, sofrendo e querendo esse amor doentio, até que cessem os beijos e sobrem apenas os tapas. Mas sem Lula, sua visão de mundo esvazia.