Para ser bem claro, não sou objetivo. O Hamas assassinou meu filho. Há vinte anos que sei que o Hamas não tem o direito de existir. É uma organização assassina impulsionada pela ideologia nazista/ISIS.
Em 5 de março de 2003, um terrorista suicida do Hamas embarcou em um ônibus em Haifa e se explodiu. Ele matou dezessete pessoas, israelenses pertencentes a quatro religiões. Nove dos mortos eram crianças em idade escolar que voltavam da escola para casa.
Entre 2008 e 2011, os meus amigos e eu liderámos o esforço em Israel para impedir o acordo de Shalit entre Israel e o Hamas. Nesse acordo, o Hamas acabou por libertar o soldado raptado Gilad Shalit em troca de Israel libertar 1.027 terroristas, a maioria assassinos com sangue israelita nas mãos. Estes eram assassinos, responsáveis pela morte de centenas de israelenses inocentes. Três dos terroristas libertados foram directamente responsáveis pelo assassinato do meu próprio filho. Todos os três foram julgados em tribunal e condenados a 17 penas de prisão perpétua. E ainda assim cumpriram apenas oito anos e meio de prisão. Seis meses para cada israelense que assassinaram.
Ao defendermos contra o acordo de Shalit, alertámos que libertar terroristas, especialmente terroristas do Hamas, equivalia a deitar lenha nas chamas de um incêndio já violento. Sabíamos que a libertação tornaria o Hamas ainda mais mortífero, mais motivado, mais ideológico. E estávamos certos. Não demorou muito até que os terroristas libertados assumissem todas as posições de topo no Hamas. Hoje o chefe do Hamas é Yahya Sinwar, que se tornou um mestre terrorista numa prisão israelita. Enquanto estava na prisão, descobriu-se que ele sofria de um grave tumor cerebral. Os médicos israelenses o operaram e salvaram sua vida. Isso não ajudou Israel nem um pouco. Ele permaneceu um bárbaro selvagem e assassino em série.
Tudo o que dissemos então, há 12 anos, é verdade hoje. Libertar terroristas é perigoso, injusto, imoral e uma ameaça ao Estado de direito. A rendição ao Hamas e a libertação de terroristas provocarão mais sequestros. Se Israel pretende pôr fim a esse modo de operação do Hamas, do Hezbollah ou de outros, precisamos de traçar um limite e fazer com que o Hamas liberte todos os israelitas raptados, sendo criativo e agressivo. Os líderes do Hamas precisam de saber que as suas vidas dependem do regresso do nosso povo raptado.
Antes do acordo de Shalit, Israel tinha outras opções que poderia ter utilizado para pressionar o Hamas a um acordo para Shalit, bem como para os corpos dos soldados das FDI Hadar Goldin e Oron Shaul. Para dar um exemplo, uma pessoa em Gaza que vai ao mercado comprar alimentos paga com shekels israelitas. O Hamas pode estar empenhado em destruir Israel, mas ainda valoriza o dinheiro israelita. Israel mantém o sistema monetário em Gaza e substitui periodicamente as antigas notas de shekel por novas. Israel poderia ter arruinado o sistema do Hamas ao interromper o fluxo de dinheiro. Cortar o abastecimento de água a Gaza parece desumano, mas todas as pessoas no mundo compreenderiam se parássemos de entregar dinheiro israelita ao Hamas. O mesmo vale para a troca das malas cheias de dólares americanos que o Catar trouxe para a Faixa de Gaza.
Israel poderia ter feito muito, mas não o fez. Agora que temos 220 pessoas raptadas em Gaza, precisamos de mudar o nosso paradigma e mostrar que Israel já não paga pelo seu povo. Precisamos voltar aos dias de Entebbe. Quando os terroristas palestinos sequestraram um avião da Air France para Entebbe e exigiram a libertação dos terroristas, Israel, liderado por Yitzhak Rabin e pelo ministro da Defesa Shimon Peres, rejeitou a exigência e enviou as FDI para libertar os reféns. Israel estabeleceu um padrão ousado, uma mensagem para o mundo, de que não negocia com terroristas. Como chegamos daí ao precedente estabelecido no acordo Shalit de libertar centenas de assassinos para um único prisioneiro? Precisamos de fazer uma inversão de marcha, ainda hoje, e voltar ao paradigma de Entebbe: “Se raptarmos um israelita, morreremos.” Ponto final.