Em publicação para o Portal UOL, nesta quarta-feira (7), o colunista Jamil Chade revelou em tom de peça de ficção policial, que Diplomatas do Itamaraty montaram o que ele chama de “rede de resistência clandestina” contra o governo, nos últimos quatro anos, com suposto objetivo de “conter política externa bolsonarista”.
Ao contrário do que o colunista tenta transparecer, a revelação não representa algo heroico ou mesmo romântico, e pode significar, ao que parece, um caso de alta traição e boicote ao governo vigente no país, com consequências nefastas ainda não contabilizadas.
Dentre as ações realizadas e confirmadas ao UOL pelo grupo de 13 pessoas (e em um ainda inédito estudo de pesquisadoras da FGV e de Oxford), que inclui embaixadores e servidores administrativos que obviamente não foram identificados nominalmente na matéria, foram citados encontros sigilosos em outros países. Ainda de acordo com os sabotadores, “A rede não envolveria apenas alguns poucos nomes e, de fato, teria se espalhado por alguns dos principais departamentos da chancelaria”.
Classificadas pelos diplomatas traidores como “resistência” e “em nome da democracia e da soberania”, as ações foram alegadas como estando “dentro de parâmetros da legalidade” e “nada mais que uma tentativa de ‘equalizar posições’ diante daqueles que estavam destruindo as estruturas do Estado. A verdadeira sabotagem, neste sentido, era o que estava ocorrendo com o sequestro de décadas da diplomacia brasileira para atender aos objetivos da extrema direita”.
Os objetivos do grupo seriam dois principais:
“• Permitir que o outro país tivesse tempo para reagir a mudanças na política externa do Brasil, sem que uma crise fosse estabelecida;
• Preservar a credibilidade do Brasil no exterior e salvar décadas de uma construção da diplomacia nacional;”
Entretanto, os fatos descritos na coluna de Jamil Chade são ainda mais estarrecedoras quando aprofundadas. Segundo os relatos dos próprios servidores, os tais encontros clandestinos representavam apenas uma das táticas utilizadas na alegada “resistência”. A seguir, descrevem uma lista escandalosa de práticas contra o governo realizadas pelo grupo traidor:
“1. Montou um esquema de contatos diretos com governos estrangeiros, sem ter de passar pela cúpula do Itamaraty e com o objetivo de desarmar crises diplomáticas.
2. Limitou-se a ler “a instrução que chegou de Brasília”, em reuniões na ONU, OMS ou OEA, sem uma atuação de empenho para convencer os demais países a seguir o Brasil em suas posições.
3. Copiou documentos que poderiam ser usados para defender um diplomata contra acusações e registrar a ilegalidade de certos atos do Planalto.
4. Gravou reuniões de forma clandestina nas quais a cúpula bolsonarista ordenou a suspensão de termos de documentos ou o veto a determinadas resoluções que citassem a palavra ‘gênero’ ou outros temas delicados.
5. Vazou informações para a sociedade civil sobre o posicionamento do Brasil na esperança de que uma pressão pública fosse feita para impedir que um determinado ato fosse concretizado.
6. Publicou artigos sob o nome de outra pessoa ou de um acadêmico.
7. ‘Arrastou o pé’, diminuindo o ritmo de trabalho na implementação de instruções estabelecidas pela ‘cúpula bolsonarista’.
8. Enganou a chefia ou informou o que era absolutamente necessário, ocultando da cúpula situações ou posições por parte de outros governos.
9. Realizou reuniões sem registros na agenda oficial, impedindo que certos temas ou debates entrassem no radar da direção.”
Sob a alegação de que durante os quatro anos do governo Bolsonaro foi gerado “um clima de medo, represálias e perseguição… no Itamaraty”, o que fica claro é que as ações dos servidores foram motivadas por clara oposição ideológica às políticas adotadas pelo governo atual, que era obrigado por força de lei a manter a maior parte de funcionários públicos e servidores alinhados às ideologias de governos anteriores.
As pautas geradoras de divergências, e tratadas nos tais encontros sigilosos, foram explicitadas pelo grupo ao colunistas, e correspondem a temas como: “mudanças climáticas, direitos humanos, a questão palestina ou mesmo a Guerra da Ucrânia”.
Ainda de acordo com Chade, as acusações de que durante o novo governo saiu de cena “a tradição e as nomeações técnicas, que sempre guiaram de forma explícita desde a promoção de diplomatas até as posições do Brasil no exterior, e entraram as indicações políticas e o alinhamento ideológico compulsório ao núcleo bolsonarista”, teriam também sido identificadas “na pesquisa coordenada pela professora da FGV Gabriela Lotta, em parceria com Izabela Corrêa, de Oxford, e Mariana Costa, também da FGV”.
As pesquisadoras declararam ter entrevistado “diplomatas em diferentes posições na carreira e que estão alocados em distintos países e setores do Itamaraty”, no entanto, todo o levantamento foi realizado de forma sigilosa e anônima “para preservar a identidade dos entrevistados”.
Ao final o colunista relata exemplos do que seriam os casos de supostos “abusos” por parte de integrantes do governo contra os servidores que passaram a não mais exercer funções decisivas em determinados setores.
De acordo com o portal, o Itamaraty foi questionado sobre o caso, porém, manteve o silêncio.
Link da coluna em UOL